Vou começar este Blog contando como tudo começou. Casei cedo, aos 22 anos, e logo parei de tomar a pílula para tentar engravidar. Um ano se passou e nada aconteceu. Mas não me preocupei, até que comecei a ter cólicas menstruais cada vez mais fortes. A menstruação durava de 7 a 9 dias, com fluxo intenso, e com o tempo passei a ter dor e sangramento também na ovulação. Ou seja, vivia com dor e sangramento...
Meu ginecologista não chegava à nenhuma conclusão e receitava remédios variados, que não resolviam. Após 4 anos tentando engravidar sem sucesso, ele receitou um remédio à base de hormônio masculino, que me deixou muito estranha. Minha voz engrossou, fiquei ainda mais magra, meio musculosa (essa parte foi boa... rsrs), mas quando parei o remédio, os sintomas voltaram com tudo. Foi então que admiti que precisava de um especialista em infertilidade.
Eu me sentia péssima, derrotada. Na minha cabeça, procurar um especialista era admitir que não podia ter filhos, a última chance, o fundo do poço. Não via esperança. Mas tudo começou a mudar... O meu novo médico, muito bem indicado, ouviu os meus sintomas, olhou alguns ultrassons, me olhou nos olhos e disse: "Eu sei o que você tem. Só vou pedir mais alguns exames para confirmar e ter tudo documentado para que o plano de saúde reembolse o que for possível. Mas você tem ENDOMETRIOSE. Tem tratamento, muitas pacientes minhas têm essa doença. Se iniciarmos agora o tratamento, em 5 meses você engravida."
Fiz os exames, entre eles um horroroso chamado "histerossalpingografia", que basicamente consiste em aplicar um contraste injetável através do orifício do colo do útero e radiografar o caminho que o contraste faz, para saber se as trompas estão permeáveis, ou seja, conduzindo os espermatozóides até os ovários para que haja a fecundação. Na época, era um exame extramamente dolorido, mas hoje em dia há novas técnicas que tornam este exame praticamente indolor.
Com os exames em mãos e a confirmação da endometriose, que era bem severa e causava endometriomas (cistos de sangue) nos ovários e algumas aderências e apenas uma trompa funcionando perfeitamente, fiz a primeira inseminação artificial. A inseminação consiste em introduzir os espermatozóides previamente coletados e preparados em laboratório, diretamente no colo do útero, através de uma seringa com uma cânula na ponta. Não dói. Só é preciso saber antes o dia exato da ovulação, através de sucessivas consultas com ultrassom transvaginal. Depois é esperar que os espermatozóides cheguem ao seu destino e torcer para que algum fecunde o óvulo. A primeira inseminação não de certo. Chorei muito. Parti para a segunda. E para a terceira.
Na época passava na Globo a novela Terra Nostra, e todo mundo engravidava. Até as avós... Alguém lembra disso? E eu chorava. Só via mendiga grávida na rua, todas as mulheres do mundo engravidavam, menos eu. Foi uma fase péssima. Eu fui numa psicóloga e sabem o que ela me disse? Que eu precisava aceitar o fato de que NÃO PODIA TER FILHOS!!! Chorei igual uma louca e nunca mais voltei lá. Se havia esperança, ela queria que eu desistisse? Não desisti. Meu médico falou que a melhor opção seria a FIV - Fertilização In Vitro. É um método bem mais caro, porém mais eficaz. A última opção. Eu e meu marido concordamos. Decidimos não contar mais os detalhes do tratamento para a família. Falamos que só iríamos contar quando eu estivesse grávida.
Na FIV, a mulher toma injeções de hormônios por vários dias seguidos, para estimular a ovulação de vários óvulos num mesmo ciclo. E quando chega perto do dia da ovulação, faz ultrassons transvaginais para acompanhar a "maturação" dos mesmos. No grande dia, fui para o hospital com meu marido. Ele colheu os espermatozóides (para o homem sempre sobra a parte boa! rsrsr) e eu fui preparada para a sedação. Minha barriga estava inchada e dolorida, pois tinha 13 óvulos ao todo, nos dois ovários. Não vi mais nada. O médico inseriu uma agulha através da parede da vagina até os ovários, e retirou um por um os 13 óvulos. Feito isso, eu fui para casa e os óvulos foram fecundados no laboratório. 3 dias depois sobraram 4 embriões com ótimas condições de implantação. Os outros não vingaram. Voltei para o hospital e os embriões foram introduzidos através do colo do útero por uma cânula, num procedimento rápido e sem dor. Fiquei umas duas horas em repouso no hospital, depois, voltei para casa. E esperei. Esperei. E na data marcada, fiz o teste de gravidez. Foram as horas mais longas da minha vida. Mas a espera valeu a pena, deu POSITIVO!!! Na primeira FIV! 5 meses após a primeira consulta, como o médico havia previsto!!!
A alegria foi imensa, mas eu ainda não acreditava, queria ter certeza de que estava tudo bem. Contamos apenas para nossos pais, irmãos, avós, e aos amigos muito íntimos. Dizem que o período de maior risco de aborto é nos primeiros 3 meses de gestação. Só respirei mais aliviada quando vi aquele feijãozinho no primeiro ultrassom. O coração pulsava rápido, a confirmação de que uma vida crescia dentro de mim. Chorei de alegria. De 4 embriões, apenas 1 havia ficado, e nós começamos a pensar no nome do bebê e no quartinho.
Quado fui fazer o segundo ultrassom, meu médico olhou para a tela, fez uma cara de espanto e sorriu. Achei ter visto 2 bolinhas ao invés de uma, e quando perguntei se estava tudo bem, ele respondeu que sim, mas que não era um, mas sim DOIS BEBÊS!!! Eu e meu marido ficamos perplexos, sentimos uma alegria inexplicável! Para uma mulher que não podia ter filhos, ser mãe de 2 bebês de uma vez é a maior recompensa de todas! É a prova de que tudo é possível, de que não devemos desistir nunca dos nossos sonhos. De que cada um tem nós tem um propósito nessa vida. Talvez eu tenha tido que passar por tudo isso para dar muito valor aos meus filhos, para me sentir abençoada, escolhida. E é exatamente assim que me sinto. Quando soubemos que era um casal, a família entrou em êxtase. As peças do quebra cabeças se encaixaram. Após 5 anos, finalmente nos tornamos uma família completa!
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Lucas e Luana, meus tesouros |
As pessoas que não conhecem minha história sempre falam: "Você teve gêmeos? Um casal? Que sorte!". Eu concordo, mas por dentro, penso: "Só eu sei o que passei. Não existe sorte, existe destino, uma força maior que nos rege, que cada um dá um nome, mas que eu chamo de DEUS.